O argumento do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, de que sua atuação é “técnica” e “independente” nunca colou. Agora fica comprovado que o bolsonarista nunca teve perfil técnico para comandar a instituição. Segundo revelou o site Metrópoles, Neto teve um encontro secreto, ou seja, fora da agenda oficial, com Jair Bolsonaro, no dia 4 de maio de 2022. Não por mera coincidência, horas antes de uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Naquele dia, o Copom aumentou em 1% taxa Selic, elevando os juros para 12,75%, o maior índice então dos últimos cinco anos.
Segundo o site de notícias, os e-mails com a agenda foram registrados pela Ajudância de Ordens do extremista de direita, sob o comando de Mauro Cid, preso por envolvimento na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. Os e-mails estão sendo analisados por membros da CPMI do Golpe.
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Ocorre que durante a semana que antecede reuniões do comitê, diretores do BC não podem manter agendas como a realizada com Bolsonaro, de acordo com a regra chamada período de silêncio, que deve ser obedecida até o dia da publicação da ata da reunião. A regra diz que diretores não devem “emitir declaração sobre assuntos do Copom em discursos, entrevistas à imprensa e encontros com pessoas que possam ter interesse nas decisões do Copom, incluindo regulados, economistas, investidores, analistas de mercado e empresários”.
Como se sabe, a interferência do presidente da República nas decisões do Copom é vedada pela lei de autonomia do Banco Central.
“Campos Neto foi votar de verde e amarelo e prestou consultoria ilegal pra campanha do genocida”, lembrou a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, em publicação no Twitter. “Demorou na queda dos juros e quer privatizar ativos do BC. E agora, foi pego no flagra em conversas em segredo com Bolsonaro. Se o autônomo presidente do BC não é um bolsonarista, então é o quê?”, questionou a deputada.
O BC nega qualquer irregularidade. “Nenhum tema relativo ao Copom foi tratado durante o referido encontro”, diz um trecho da nota divulgada pelo órgão. Segundo o BC, a agenda com Bolsonaro não foi registrada oficialmente por uma “falha operacional”.
Para o deputado federal Alencar Santana (PT-SP), Neto, que já estava completamente fragilizado no cargo, agora não possui mais nenhuma condição de continuar à frente do BC. “Já havia muitos motivos para Roberto Campos Neto sair do Banco Central. Hoje, com a revelação de que violou normas do BC e da administração pública, ao encontrar Bolsonaro no período de silêncio do COPOM, não possui mais nenhuma condição de ficar no cargo”, cobrou o deputado.