Um bebê, de apenas 3 meses de idade, morreu na madrugada de sexta-feira (8/3), por causa de complicações da dengue. A informação foi confirmada pelo Correio junto a fontes da saúde pública do DF. A reportagem também apurou que ele estava internado desde o último domingo, em um hospital particular do Distrito Federal.
Por meio de nota oficial, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) afirmou que "todos os óbitos suspeitos por dengue são notificados à pasta, tanto por unidades públicas quanto privadas. A área técnica da SES realiza a investigação, que tem o prazo de 60 dias. Somente após a confirmação, são inseridos no boletim", disse o texto enviado pela pasta. A morte da criança está na lista dos casos em investigação. De acordo com o último boletim epidemiológico da doença, divulgado na segunda-feira, são 78 mortes causadas pelo vírus, além de outras 84 que estão em investigação.
Medo
Com a epidemia da doença, é comum encontrar pessoas que tenham, em seu ciclo de convivência, parentes, amigos e vizinhos que contraíram a dengue. Na tenda de hidratação montada na Administração Regional de Ceilândia, o Correio encontrou o militar Bartolomeu Alves, 55, que acompanhava a mãe, a qual acabava de confirmar o quadro de dengue. Segundo ele, pelo menos 60 pessoas da sua comunidade, entre parentes e amigos, tiveram a doença este ano.
"Além da minha mãe, que confirmou a dengue hoje (sexta-feira), tenho três sobrinhos e duas irmãs que pegaram a doença nessa epidemia. Acho que todo mundo que conheço contraiu o vírus", lamentou. "Se for contar as pessoas que conversei nas últimas três semanas, entre amigos, parentes e vizinhos, por baixo, posso dizer que 60 pessoas disseram que pegaram dengue", contabilizou.
A infecção da mãe preocupa Bartolomeu. "Ela está com 82 anos e tem comorbidades, como hipertensão e diabetes, além de não ter uma imunidade tão alta. Até por isso, insisti muito para que ela viesse até a tenda", disse.
A moradora de Ceilândia Norte Bruna da Silva, 26, também estava na tenda, buscando atendimento. "Confirmei agora (o diagnóstico de dengue). Há três dias que estou com muita dor de cabeça e dor nas costas, achava que era por causa do problema de coluna que tenho, mas, pelo visto, não é. Além disso, estou com dor abdominal e nas articulações", relatou.
Ela contou que foi a primeira vez que pegou dengue. "Está muito complicado, principalmente porque não estou conseguindo cuidar do meu filho, que ainda é um bebê. Não tenho forças nem para pegar ele no colo. Atualmente, minha vontade é só de ficar deitada. Meu marido é que está me ajudando muito", ressaltou.
Bruna disse que também está preocupada por causa da evolução da doença. "Tenho medo do que pode acontecer comigo. Inclusive, quando estava esperando para fazer o teste, acabei dando uma balançada e chorei", revelou. "Depois que você se torna mãe, o que passa pela cabeça, o tempo todo, é o filho. Fico pensando que se a gente, que é adulto, não aguenta direito a dengue, imagina ele, que é só uma criança pequena", desabafou.
De acordo com dados da Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), somente no período de força-tarefa de combate à dengue, entre 23 de janeiro e ontem, foi aplicado R$ 1,93 milhão em multas, nas 1.168 ações de fiscalização, que englobam lotes sujos, acúmulos de pneus, destinação inadequada de entulho, resíduos e água servida.
Na QNM 23, a reportagem encontrou uma rua com muito lixo a céu aberto, onde mosquito da dengue se prolifera. Rogério Padilha, 42, é comerciante e trabalha próximo ao local. "Infelizmente, é assim, o SLU (Serviço de Limpeza Urbana) passa, recolhe o lixo, mas, durante a noite ou madrugada, chega alguém para colocar mais lixo ou entulho", lamentou.
Ele contou que se recuperou da dengue recentemente. "Me recuperei há uns 10 dias, mas ainda estou com algumas sequelas: cansaço fora do normal e dor constante na batata das pernas. Foi terrível. Fiquei 20 dias de cama", detalhou o comerciante, que mora em Taguatinga. Para ele, quem sofre com o descarte irregular, é a população. "Acho que é hora de a gente conscientizar que essa doença está matando mesmo. Inclusive, na minha rua, lá na QNL 11, morreu o meu vizinho, por causa da dengue", ressaltou Padilha.
Doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), o ambientalista Christian Della Giustina ressaltou que o descarte irregular de lixo, seja em terrenos baldios ou nas vias, é sempre nocivo ao meio ambiente e à sociedade como um todo. "Quando se descarta lixo em lugar irregular, principalmente nas áreas que tem uma população mais adensada, você acaba fazendo com que o mosquito deposite seus ovos na água acumulada nesse lixo e isso acaba aumentando, e muito, o risco de transmissão da dengue", acrescentou o especialista.
Diretor-presidente do SLU, Silvio Vieira disse ao Correio que, com o advento da dengue, está intensificando o recolhimento do lixo em nove regiões, passadas pela Secretaria de Saúde. "Por lá, identificamos 64 pontos de descarte irregular. A ideia é limpar todos esses locais, cercar e plantar, para mostrar a população que não existe necessidade de jogar lixo na rua", comentou. "Manter a cidade limpa é fundamental para evitar qualquer tipo de doença, não existe motivo para o cidadão descartar seu lixo e entulho de forma irregular", ressaltou Vieira.
Subsecretário de Fiscalização de Resíduos Sólidos da DF Legal, Edmilson Cruz destacou que, no caso das ações de fiscalização de descarte irregular de lixo e entulho, "os auditores fiscais fazem rondas constantes nos principais pontos mapeados por nós e pelo SLU para autuar em flagrante".
"Desde o início da força-tarefa, todos os registros da ouvidoria relacionados à dengue, que chegam para a DF Legal, têm sido tratados de maneira prioritária. O cidadão pode entrar em contato conosco pelo 162, site Participa DF ou presencialmente, em um dos 16 Núcleos de Atendimento ao Cidadão espalhados pelo Distrito Federal", reforçou o gestor.