Do ATUAL
MANAUS – A profundidade do Rio Negro atingiu 12,66 metros nesta sexta-feira (4), a menor em 122 anos de medição do nível da água na superfície. Também é menor que a registrada em 2023, de 12,70 m, registra o SGB (Serviço Geológico do Brasil). Essa marca foi registrada no dia 27 de outubro, enquanto a cota deste ano ocorre quase um mês antes. A profundidade normal é de 35 metros na orla de Manaus.
Segundo Jussara Curi, pesquisadora em geociência do SGB, a cheia do Rio Negro em Manaus depende da subida do nível de outros rios como o Solimões, na cabeceira em Tabatinga. Jussara disse que começou a chover em Tabatinga (a 1.117 quilômetros da capital), mas é insuficiente para o Rio Negro voltar ao nível normal.
“Como é que está o Solimões hoje? Está subindo na região de Tabatinga. Mas está subindo de forma consistente sinalizando o fim da vazante? Ainda não, porque depende das chuvas. Para mudar esse cenário, a gente precisa que as cabeceiras estejam sendo abastecidas de forma consistentes. A gente fala de chuvas consolidadas que caracterizam o início do processo de enchente. Ainda oscila essa questão da chuva. Tem dias que chove 10mm e dias que chovem menos”, disse Jussara.
A pesquisadora disse que para ocorrer a mudança de cenário é preciso que chova acima de 30mm, o que deve ocorrer somente a partir da segunda quinzena de outubro. “Para que a gente tenha mudança nesse cenário, a gente precisa dessas chuvas de cabeceira e chuvas distribuídas na bacia do Amazonas. Esse cenário de chuvas acima de 30mm, o que só aparece na segunda quinzena de outubro”, disse a pesquisadora.
Jussara citou que os municípios de Parintins e Itacoatiara também atingiram o menor nível dos rios. A pesquisadora disse ainda que em Manaus o Rio Negro vai continuar descendo por pelo menos duas semanas. Não há tendências de subidas ainda.
“Em Manaus, a gente tem uma cota hoje superada e ainda não temos uma tendência de subida. Então, o que indica? Que vai continuar descendo. Vai descer menos, mas vai continuar em recessão por alguns dias e a gente estima que seja ao menos duas semanas”, disse Jussara.
A expectativa do SGB é que o nível do rio permaneça na faixa dos 12 metros. “As descidas vão se tornar mais regulares, menores. A gente chegou em 11cm, aí amanhã [sábado] ou nos próximos dias a gente chega com aquelas descidas de 5cm, 3cm que vai estabilizar. Isso é um sinal de estabilidade da bacia. Então, há probabilidade de baixar dos atuais 12? Existe essa probabilidade, mas a gente espera que fique na casa dos 12 metros”.
Jussara atribui a seca deste ano em período de tempo curto em relação à do ano passado aos efeitos do fenômeno El Niño, que causa estiagens polongadas. “A bacia [do Amazonas] em certas regiões foi afetada em dois anos consecutivos. Os níveis dos rios estavam muito baixos e não conseguiram se recuperar no período da cheia [em 2023]. É como se a chuva na época das cheias não fosse o suficiente para encher a bacia. Então, quando começou a estiagem, aí afetou sobremaneira onde os níveis estavam baixos”, disse.
“O processo de vazante do Rio Negro deve ainda continuar ao longo do mês de outubro até que a onda de cheia se estabeleça. Temos observado que a intensidade das descidas têm diminuído. Saímos de um patamar de descidas de 23 cm por dia para 14cm diários e 11cm, nesta sexta”, explicou o gerente de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB, Andre Martinelli.
A última década tem sido marcada por eventos extremos na Bacia do Rio Amazonas associados às mudanças climáticas, como detalha o coordenador nacional dos Sistemas de Alerta Hidrológico do SGB, Artur Matos: “Os anos de 2021 e 2022 foram marcados por grandes cheias, enquanto os de 2023 e 2024 por grandes secas. É um indicativo de que os extremos estão mais frequentes”.
Em 2023, o Rio Negro voltou a encher no final de outubro, de forma lenta. Neste ano, a vazante começou no dia 17 de junho.
(Colaborou Feifiane Ramos)