Importantes descobertas também foram obtidas sobre a mente humana, desde a medicina de Hipócrates na Grécia clássica do século IV a.C com o tratado das Teorias Humorais, passando pela dupla Philippe Pinel e Esquirol que no século XVIII desvendaram uma gama de patologias mentais, até chegar aos avanços tecnológicos e neurocientíficos da atualidade como refrigério às mentes adoecidas.
Mas um divisor de águas realmente aconteceu no fim século XIX através de um homem chamado Sigmund Freud, médico neurologista que se dedicou arduamente aos estudos de fenômenos mentais, e que fez surgir a revolucionária metapsicologia para a ‘terapia das neuroses’ chamada de psicanálise, considerada uma das mais importantes descobertas do século XX.
Registrado como Sigismund Scholomo Freud, nasceu no dia 06 de maio de 1856 em Freiberg, atual República Tcheca (na época território austro-húngaro), tendo vivido a maior parte de sua vida em Viena. Exilado na Inglaterra devido a perseguição nazista por sua descendência judaica, faleceu em 23 de setembro de 1939 aos 83 anos de idade vítima de câncer no palato, mas deixando um incalculável e descomunal legado científico e intelectual para a humanidade.
Ingressou na faculdade de medicina aos 17 anos. Brilhante aluno que foi, inicialmente se empreendeu à pesquisa da neurofisiologia. Casou-se e teve 6 filhos. Na França conheceu um hospital psiquiátrico dirigido por outro neurologista, Jean Charcot, onde encontrou inspiração para estudar os fenômenos mentais e as doenças nervosas, e desde então seguiu em sua incansável busca, cunhando a psicanálise como método de exploração de processos mentais inconscientes.
“A psicanálise foi um verdadeiro divisor de águas no estudo dos fenômenos mentais.”
Sofreu duras críticas principalmente da própria sociedade médica de sua época. Teorias como a nova maneira de pensar a sexualidade a partir do infantil, a regência da personalidade pelo inconsciente, e a possibilidade de uma vida psíquica indistintamente de funções puramente físicas ou orgânicas causou uma série de controversas, mas que com o passar do tempo foram sendo aceitas e aprimoradas.
Com mais de quatro décadas dedicadas à doutrina psicanalítica, publicou inúmeros livros e artigos que também inclui temas como cultura, mitologia, religião, artes e história. Desprendendo-se da medicina, fundou a Sociedade Psicanalítica de Viena com seus fiéis seguidores, cujo movimento segue se expandindo pelo mundo até hoje, sobretudo através de duas das principais escolas, a britânica Melanie Klein, Winnicott, Bion, e a escola francesa protagonizada por Jacques Lacan.
A psicanálise é tanto um complexo e extenso corpo de teorias que versam sobre o funcionamento da vida mental, como um conjunto de ferramentas técnicas de exploração do inconsciente (o desconhecida em nós), e não depende de aparatos patológicos ou diagnósticos de natureza ontológica ou causal para suceder, como se pauta a psiquiatria e a psicologia por exemplo, o que neste caso torna a psicanálise singular, instrumental e epistemologicamente distinta de outras práticas.
Por escolha e tradição das principais instituições de transmissão no mundo, o ofício do psicanalista é livre e isento de regulamentações governamentais, a exemplo de sacerdotes, jornalistas e psicopedagogos, entre outros, e sua prática no Brasil é amparada legalmente. Todavia, a formação de um analista difere do ensino acadêmico convencional, e se dá através de escolas, associações ou sociedades psicanalíticas organizadas exclusivamente para este fim.
Pessoas de qualquer área de graduação comprovada podem se candidatar conforme exigências de cada entidade formadora. Considerável capacidade intelectual também é indispensável ao futuro analista, que implica em apreço pelas artes, à cultura, conhecimentos gerais e o ávido gosto pelo estudo e leitura.
“Análise como uma experiência que nos ajuda a crescer mentalmente.”
Contudo, é válido ressaltar a idoneidade, o histórico e o compromisso ético com a qualidade de cada etapa como essenciais na hora de avaliar a escolha de uma instituição, cujo processo se alicerça num estrito tripé analítico: análise pessoal, conhecimentos teóricos-técnicos e a supervisão clínica, modelo que aliás, mantém-se no percurso da carreira visando contínuos refinamentos necessários ao ofício.
Outro aspecto a observar com devida relevância é que a psicanálise não é uma exclusividade ou tampouco derivada de qualquer outro campo de conhecimento ou profissão sob a pretensa justificativa de aferir e restringir a competência ou capacidade de seus pares, embora se mantenha aberta e flexível ao amplo e frutífero diálogo interdisciplinar com qualquer área do saber e se permita vincular a outros ramos para se organizar em torno de sua transmissão e formação.
Com abordagem terapêutica baseada na observação da experiência emocional, é através dos fatores inconscientes que se descobre as mais ricas expressões da natureza humana, fonte de suas expressões criativas, laços sociais e de personalidade, por outro lado, uma mente inexplorada pode reservar consideráveis sentimentos de mal estar e infelicidade que atingem no que somos, como nos relacionamos, amamos, trabalhamos e encaramos as adversidades da vida.
Portanto, fazer análise é uma experiência que nos ajuda crescer mentalmente. É um percurso de transformações, de aprender a lidar melhor consigo mesmo, como pensa, sente e vive as emoções, descobrir novos olhares dos velhos dramas existenciais com mais discernimento, maturidade e lucidez, evoluindo em direção a uma autenticidade de si, sendo o que se é, aliás, algo libertador.
Neste dia 06 de maio, a homenagem a todos os psicanalistas dedicados ao árduo trabalho de seguir explorando as mais insurgentes e paradoxais emoções humanas. E das próprias palavras de Freud: “– um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste.”
Fonte: EPP Escola Paulista de Psicanálise