Milei diz que Argentina não está pronta para o seu ‘regime de liberdade’
'Não somos comunistas, somos libertários', disse o presidente sobre suas políticas ao Financial Times
Publicada em 12/10/24 às 13:35h - 20 visualizações
Rádio Rir Brasil Itacajá TO - Direção: Ronaldo Castro 63 99139-3740
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(Foto: Rádio Rir Brasil Itacajá TO - Direção: Ronaldo Castro 63 99139-3740)
(Folhapress) O presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou que não está pronto para suspender os controles cambiais do país, argumentando que uma data fixa para eliminar a medida é incompatível com seu “regime de liberdade”.
Em entrevista ao Financial Times, o economista libertário argumentou que, para que os controles sejam eliminados, a inflação galopante do país precisa cair ainda mais, entre outras condições econômicas.
“Não somos comunistas, somos libertários”, disse Milei ao FT. “Há uma questão filosófica por trás disso, que é que não posso definir datas porque não penso como um planejador central. Pensamos em termos de um regime de liberdade.”
Os controles, impostos pelo governo anterior em 2019 em meio a uma crise econômica, fixam o peso a uma taxa oficial e limitam as compras individuais e empresariais de moeda estrangeira, criando um mercado negro para a moeda americana e desencorajando o investimento estrangeiro.
Milei, que desvalorizou a taxa oficial em mais de 50% ao assumir o cargo em dezembro do ano passado, havia dito anteriormente que esperava eliminar os controles em meados de 2024.
Ele equilibrou o orçamento, encerrando anos de déficits financiados pela impressão de dinheiro do banco central, e reduziu a inflação mensal de um pico de 26% em dezembro passado para 4,2% em agosto. No entanto, os preços subiram 237% nos últimos 12 meses.
O preço dos dólares no mercado negro caiu desde julho, reduzindo a diferença com a taxa oficial do peso e levando alguns economistas a sugerir que o governo deveria aproveitar o momento para eliminar os controles cambiais por completo.
A taxa oficial é desvalorizada em 2% ao mês, uma depreciação que foi superada pelo aumento dos preços ao consumidor este ano. Isso levou exportadores a reclamar que quase todos os ganhos de competitividade da desvalorização de 54% em dezembro foram agora eliminados.
Mas, quando questionado se era o momento certo para remover os controles, Milei disse, na entrevista conjunta com seu ministro da economia Luis Caputo no palácio presidencial Casa Rosada em Buenos Aires: “Não, ainda não.”
Caputo também questionou a urgência de eliminar as restrições, dizendo que, embora não quisesse “subestimar as pessoas que olham para os controles cambiais… quase parece infantil focar em se [eles] terminam em dois, três, cinco ou oito meses. Isso não importa”.
Quando viajou para o exterior com o presidente, Caputo acrescentou, “sempre vemos investidores na economia real e, honestamente, ninguém pergunta sobre os controles cambiais”.
Milei argumentou que o governo anterior havia criado um excesso de pesos —que ele descreveu como um “excesso de dinheiro”— ao imprimir cédulas e não permitir que os argentinos comprassem dólares livremente.
Ele disse que os controles poderiam “ser encerrados quando o ‘excesso de dinheiro’ tiver terminado”, e acrescentou que três condições precisavam ser atendidas “simultaneamente” para isso.
As outras condições envolveriam os bancos domésticos vendendo sua extensa posse de títulos do governo argentino de curto prazo para financiar o aumento de empréstimos para empresas e provisionar a demanda reprimida por dólares que se acumulou.
Para Caputo, “o mais importante para a Argentina é retirar os controles quando isso não causar estresse para o nosso povo”.
Milei expressou frustração com investidores que exigiam saber quando os controles seriam eliminados, argumentando que atender às condições dependia em grande parte do comportamento do setor privado.
Ele acrescentou que a eliminação dos controles de capital não dependia de um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), ao qual a Argentina deve US$ 43 bilhões (R$ 240,1 bi). “Já começamos a retirar algumas das regulamentações que compõem os controles. E estamos fazendo tudo isso por conta própria”, disse ele.
“Se alguém vier e nos der muito dinheiro, bem, então sim, terminaremos [os controles] amanhã. Mas estamos trabalhando como se isso não fosse acontecer. É como se fôssemos extremamente avessos ao risco.”
Mas Caputo acrescentou que o governo ainda estava considerando iniciar negociações com o FMI sobre um pacote de empréstimo de substituição, que incluiria dinheiro fresco “para aumentar as reservas líquidas” que “ajudariam a retirar os [controles cambiais]”.
O ministro da economia negou que a moeda estivesse sobrevalorizada. “Não podemos esperar que a taxa de câmbio real seja tão baixa quanto era durante a pior crise econômica da história da Argentina”, disse ele.
“Acreditamos que devemos ganhar competitividade não desvalorizando [novamente], que é o que a Argentina sempre fez”, acrescentou. “A solução é crescer, alcançar um superávit [fiscal] e reduzir impostos.”
Caputo defendeu que a economia está melhorando à medida que as políticas de Milei ganham força e os efeitos da “desastrosa” política monetária da administração peronista anterior desaparecem. Ele disse que os peronistas haviam impresso pesos equivalentes a 13% do PIB em seu último ano no cargo para financiar os gastos do governo.
“Então, essa pressa, essa ansiedade [para tirar os controles cambiais] é um erro que não vamos cometer”, disse Caputo.
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