Não estou certo se o ano no qual ocorreu o que, a seguir, narrarei era 1965 ou 1966. Todavia o que de fato veio à minha memória é a figura daquele homem de baixa estatura entrando no escritório para resolver algum assunto referente ao município do qual aquele senhor era vereador.
Sem saber quem era, fui logo perguntando à minha mãe alguma informação sobre aquele que nos visitava: “quem é essa pessoa, mãe?”, e ela respondeu: “é o dono de uma serraria lá de Colinas que se elegeu vereador. O nome dele é Siqueira Campos”. Depois de ter dois dedos de prosa com meu progenitor, Siqueira tirou de uma pasta aquele que, talvez, fosse o projeto político que garantiu ao futuro deputado federal, pelo antigo Goiás, obter 7 mandatos. A partir daí, o obstinado ex-vereador de Colinas passou a defender aquela bandeira política oriunda dos tempos do Império: a divisão do estado de Goiás em duas distintas unidades da federação.
Foi esse episódio que me veio à memória quando tomei conhecimento da morte do único político do Tocantins, até então, o qual não será esquecido pelas areias do tempo. Siqueira Campos fez história. Siqueira Campos está na história. Por essa razão, daqui a um século, em que provavelmente todos já tivermos virado pó, a figura do obstinado Siqueira Campos estará lá, mais viva do que nunca!
Estou convicto do que a afirmo porque não só acompanhei toda a trajetória do político Siqueira Campos, como também o encontrei várias vezes durante seus 7 mandatos. Obstinado por essa causa, Siqueira enfrentou, quase que solitariamente, a lenta burocracia da Câmara e do Senado quando se trata de assuntos dessa natureza. Nos momentos que o tema parecia ser fadado ao fracasso, lá estava o obstinado Siqueira Campos para reativar a bandeira política da vida dele. Nos momentos de grande pressão, fez uso da mesma estratégia do líder indiano Mahatma Gandi quando protestava contra o domínio inglês sobre a sua Índia: a greve de fome.
É bem verdade que a criação do estado do Tocantins teve outros profetas antes desse cearense que se fez tocantinense. Teotônio Segurado e outros idealistas de menor expressão, como o ex-deputado João de Abreu. Estes tiveram o mesmo destino de Moisés que conduziu seu povo rumo à Terra Prometida, mas pereceram antes de entrar no novo lar.
José Wilson Siqueira Campos foi mais além, pois conseguiu, em vida, tornar-se um mito para o povo do Tocantins. No governo, entre e acertos e desacertos, o mito prevalecerá.
No momento que concluo este artigo, minha memória revive um bate-papo que tive com um velho companheiro de andanças pelos sertões do Tocantins. Falo do ex-deputado, de saudosa memória, Mário Cavalcanti.
Este me deu o seguinte testemunho: “Chegamos em municípios onde a pobreza era semelhante aos mais pobres países da África. Sem nenhuma pensão e com aqueles banheiros onde as necessidades fisiológicas eram feitas nos buracos cavados no chão. Nesses lugares, água encanada era algo muito distante para aquele povo sofrido. Ciente do que tínhamos pela frente, eu e Siqueira íamos prevenidos. O jeito era atar as redes num lugar menos quente e tomar banho na beira do rio. No outro dia lá, eu, o Siqueira e um motorista íamos visitar mais municípios empunhado a bandeira política da criação do estado do Tocantins”.
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